Tuesday, March 20, 2007

Contos de fadas V - Uma excepção

Há um conto deste tipo que, apesar de também merecer algumas críticas, penso que no geral não é tão mau como os citados anteriormente. Falo da menina com cauda de peixe que queria ser humana - "A Pequena Sereia". Existem versões diferentes desta história, mas a que gosto especialmente é aquela que não tem um final (tipicamente) feliz para a jovem sereia. Independentemente do facto de o príncipe ser merecedor do seu amor ou não, de ela se ter humilhado para que ele se apaixonasse por ela, de ter abdicado da família e do seu mundo por uma paixão que não sabia se ia correr bem - Ariel é, p'ra mim, uma menina-mulher de enorme carácter: é decidida, sabe o que quer e é corajosa, porque lutou por aquilo que queria, embora apavorada. Só isto, já bastava para ter a minha mais sincera consideração, mas o ponto alto da história - aquele que me faz gostar tanto da miúda - é exactamente o final: contrariamente ao que é dito nalgumas versões, quando o príncipe casou com a outra, Ariel não sentiu que "todo o seu sacrifício havia sido em vão". Se ela tivesse pensado dessa forma, tinha matado o príncipe para salvar a sua própria vida e regressado conformada ao mar. Mas não. Também não penso que foi um acto altruísta de negação dela própria em prol do amado. Nada disso.
Ela percebeu, sim, que o Amor e Paixão que sentira durante o tempo que passara com ele é que eram a verdadeira vida, e que, por essa razão, a sua já tinha valido a pena.
Preferiu morrer viva do que continuar a sobreviver.

2 comments:

invisio2nx said...

Oh my God. Tirem-me deste conto.
Não gostei... demasiado lamechas...

Anita said...

Achas? Não é nenhum tipo de ode ao sacrifício do Amor e essas coisas. Gosto de uma pessoa decidida, que sabe o que quer e que aproveita da vida aquilo que é a vida pra ela. Percebes? Não gosto do gajo, como deves calcular, nem acho que ela fez a melhor opção: eu ficava-me pelo mar, que é certamente mais interessante, mas admiro-a por ter lutado por aquilo em que acreditava e, mais do que isso, por ter tido coragem de agir com medo: isso é que é a verdadeira coragem.