Thursday, December 13, 2007

"O mal da ignorância é que vai adquirindo confiança à medida que se prolonga"

Acho piada às pessoas que gostam de utilizar a palavra "literalmente" para dar ênfase ao que estão a dizer, tipo:
- Estou-m'a cagar pra ele, literalmente.

"Não há nada mais terrível do que uma ignorância activa" (Goethe)

FMI

«Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...»
in FMI, José Mario Branco.

Friday, December 7, 2007

Tudo tem um fim. Só a Salsicha é que tem dois. (provérbio alemão)

Thursday, December 6, 2007

O Essencial & o Necessário - o caso dos (não) fraldários nos WC masculinos

Há coisas que nos "passam ao lado" durante quase toda a vida. Geralmente coisas que não nos tocam directamente. Defendemos a igualdade de género, estamos atentos a fenómenos como o racismo e a xenofobia, lutamos pelos direitos das pessoas com deficiência, etc, mas tudo isso na teoria, naquilo que se chama "o geral". Achamos, por exemplo, que todos os locais de acesso devem ser adaptados a cadeiras de rodas, mas quando entramos num edificio sem elevador não nos vêm à cabeça, enquanto subimos as escadas, "se entra aqui um deficiente, não pode subir". Não são coisas que caminhem até ao nosso pensamento de forma automática, a maioria das vezes.
Por isso, não estou surpreendida por nunca ter pensado na questão que dá nome a este post: Porque não existem fraldários nas casas de banho dos homens? Se estão à espera de um discurso feminista, esqueçam - é apenas um discurso humano. Até porque fui dar uma olhada no universo dos blogues e todos os posts que encontrei que se referiam ao assunto eram assinados por homens, nomeadamente pais que se queixavam por irem passear aos centros comerciais com os filhos e terem que entrar na casa de banho feminina para lhes mudar a fralda.
Ok, não é uma questão essencial porque provavelmente (e infelizmente) um fraldário nesse local seria uma coisa muito pouco utilizada, a princípio. Nem é que não seja precisa, mas já viram um macho a trocar a fralda do puto num local apinhado de outros machos? Que falta de masculinidade! Não, claro que não é essencial, aliás, se um tipo não demorar muito tempo nas compras, o puto até pode aguentar a merda até chegar a casa.
Não é essencial, mas é necessário. Porque há coisas que construímos para se adaptarem às pessoas (e.g. rampas para deficientes) e há outras que construímos principalmente para que as pessoas se adaptem a elas, para que haja mudança - essa palavra tão assustadora!
Há o essencial e o necessário, e ambos devem ocupar as nossas listas.
Não concordam? Então podem parar de me dar cinzeiro no café, porque a mim dá-me muito mais jeito mandar o cigarro aceso p'ro chão.

Wednesday, November 21, 2007

"¿Porque no te callas tu, Juan?"

«- Ah, e tal, o Aznar é fascista e blá-blá-blá...
- ¿Porque no te callas?»

Percebem a ironia da cena? Hmm, é um episódio que poderia servir de base para um texto cómico. Mas, aprofundando um bocado melhor o tema, não achamos grande piada à coisa. A saber, por exemplo:

  • A família real espanhola conta actualmente com 1 rei, uma rainha, 3 príncipes filhos, 2 genros (afinal, parece que agora já é só um!uff), uma nora e 8 príncipes netos. Ao todo são 15 pessoas a viver a la cuenta;
  • O rei, apesar de não ser eleito pelo povo espanhol (ver democracia), tem poderes que muitos presidentes da república ansiavam ter;
  • A monarquia em Espanha, segundo alguns, é ilegítima, uma vez que foi restaurada por um ditador, o general Francisco Franco;
  • A justiça espanhola acusou algumas pessoas de "injúrias" contra a realeza por terem queimado fotos do rei Juan Carlos e da restante família real, em Setembro, quando o rei visitava Girona (ver liberdade);

E por último, mas não menos importante:

  • São todos feios e sem sensualidade, principalmente o príncipe, o que acaba com a visão idealista das miúdas que ouvem e lêem contos de fadas (visão essa já bastante debilitada devido à existência do príncipe Carlos de Inglaterra).

Termino com uma frase de George Orwell (in "1984"), que tem a ver com esta questão (não a da beleza da família real, claro) que traduzo para castelhano, dada a situação:

"todos somos iguales, pero hay algunos mas iguales que otros"

Tuesday, November 20, 2007

Isqueiros com protecção infantil II

Caros fumadores,

Segundo normas da União Europeia, os isqueiros sem protecção infantil só poderão ser vendidos até Março de 2008. Aproveitem para começar a juntar um número considerável destes objectos, porque a partir dessa altura estes vão passar a ser substituídos por "brinquedos" para as crianças. Parece que já estou a ver a cena :

- "João, dá cá o isqueiro à mãe"
- "Não, agora vou para casa do Miguel e vou levá-lo para brincarmos"
- "Está bem, filho. Mas não demores muito que apetece-me mesmo fumar um cigarro".

Hmm...Fará esta nova lei parte de um plano para que as pessoas deixem de fumar?

Thursday, November 15, 2007

Isqueiros com protecção infantil

Porque é que fazem isqueiros com protecção para crianças?
Foda-se, não era mais lógico NÃO DAREM OS ISQUEIROS ÀS CRIANÇAS, PARA BRINCAR?
O que é que se segue? Cigarros que custem a puxar? Facas de cozinha que não cortem? Detergentes sem químicos?

Tuesday, November 13, 2007

É só apresentar o cartão, fachavor!

Indo ao site do Portal do Cidadão, reparamos que realmente é muito fácil pedir a 2ª via do Cartão de Contribuinte.
Basta-nos ir a qualquer Serviço de Finanças, preencher um impresso e apresentar o Cartão de Contribuinte, caso o tenhamos (o que julgo que deve acontecer na maioria dos casos, afinal, para que iríamos pedir a 2ª via?)

Friday, November 2, 2007

As "baldas"

Não concordo com a maioria das ideias da actual ministra da Educação. Mas em relação à questão das faltas estou completamente de acordo.
O mundo é cada vez mais global. No entanto, a questão da diversidade não deve ser encarada como um problema, mas sim como uma riqueza, uma oportunidade de troca de experiências.
No caso da aprendizagem, aplicado aqui, é importante salientar que cada pessoa tem o seu próprio estilo, a sua própria organização/ gestão do tempo. Há pessoas que precisam de um maior acompanhamento, de ter as coisas bem explicadas/ definidas e outras que, pelo contrário, funcionam melhor tendo umas bases e depois procurando/ estudando sozinhas. Pessoas mais indutivas e pessoas que chegam lá mais facilmente por dedução. É difícil conseguir um programa de uma disciplina que "agrade" a todos, mas acho que há pequenas questões que se podem conciliar, de modo a que todos os alunos possam "escolher" qual o melhor método para eles próprios.
Além disso, temos que ter em conta que a escola não é apenas um local de aprendizagem, é um lugar onde crescemos e nos tornamos pessoas. E, para que isso aconteça saudavelmente, temos que ter tempo para nos "baldarmos" às aulas para namorar atrás do pavilhão; para fumarmos um cigarro a meias com uma colega, mesmo que depois passemos 2 horas a tossir; para apanhar uma molha no intervalo e demorar mais tempo na casa de banho a secar a roupa; para assistirmos às aulas de educação física dos gajos da turma de desporto, por quem geralmente estamos apaixonadas e para podermos acompanhar os jogos das equipas desportivas na semana do Desporto.
A escola não deve ser um local onde só se fornece informação, mas principalmente um sítio onde se aprende a procurar essa informação. "Não dar o peixe, mas ensinar a pescar".
Porque educar não é só ensinar, é também dar espaço para descobrir.

Wednesday, October 10, 2007

Para Ler

Entrevista de José Rodrigues dos Santos, Pública, 7 Outubro

Wednesday, September 26, 2007

Continuando assim, vais ter razão, ó Ahmadinejad

Ahmadinejad diz que não há homossexuais no Irão.

Dois jovens homossexuais iranianos enforcados pelo crime de...homossexualidade.

Acredito que esteja quase a consegui-lo.

Um anti-capitalista a menos no mundo

"O filósofo francês André Gorz, co-fundador do jornal Le Nouvel Observateur, suicidou-se aos 84 anos, juntamente com a sua mulher, em casa, em Vosnon.
De acordo com vários testemunhos, os corpos de André Gorz e da sua mulher, Dorine, de 83 anos, estavam ao lado um do outro.
Na porta da habitação encontrava-se afixado um papel pedindo que fosse avisada a polícia.
A mulher do filósofo, considerado um dos "pais" da ecologia política e do anti-capitalismo em França, sofria há vários anos de uma doença evolutiva, que levou André Gorz a retirar-se das lides profissionais para cuidar dela em Vosnon."

Foda-se, já não bastam os que foram mortos/silenciados, vem este e mata-se! Já somos muitos, ó caralho!

Tuesday, September 25, 2007

"Olá, disseste."

"Os anos passarão.
Os canteiros hão-de gerar um outro buxo.
Outros pássaros virão cantar nos ramos altos do pinheiro manso e dos plátanos.
A tia morrerá. E a casa e o jardim, a própria vila, suas rotinas, seus ritmos e seus ecos.
Não ficará senão a tua voz na tarde calma.
Olá, disseste.
E a terra começou a tremer."

in "A Terceira Rosa", Manuel Alegre.

Friday, September 21, 2007

Descobertos vestígios de penas no fóssil de um velociraptor

"Descobertos vestígios de penas no fóssil de um velociraptor" in Público

Thursday, September 13, 2007

O Dalai é um betinho!

"O governo português [e o Presidente da República] excluiu sábado receber oficialmente o Dalai Lama, líder espiritual budista e do Tibete no exílio e Prémio Nobel da Paz em 1998, de visita a Portugal, tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, afirmado hoje que a decisão foi assumida no contexto das boas relações com a China e não decorre “de nenhuma pressão de nenhum governo”."(in publico)

Aaaahhh! Assim tá mais bem explicado. Eles não querem falar com o Dalai, não porque a China lhes ordenou, mas simplesmente porque não querem aborrecer os tipos. É pena. Acho que tem imensa piada um gajo chateado de olhos em bico. Deprecia a gravidade da situação.

PS: Bem, aqui para nós, eu compreendo perfeitamente a posição do nosso primeiro e do nosso D. Sebastião: não acham o tipo irritante?
"Paz, harmonia, etc, etc"
"Não me queres receber, eu não me chateio, e tal, e tal"
"Aliás, se me quiseres dar 1 murro nos cornos eu não me queixarei e rezarei por ti".

Fooooooooodaa-se!

As "Origens" de Maalouf

«Outros que não eu teriam falado de “raízes”... Não emprego esse vocabulário. Não gosto da palavra “raízes” e da imagem ainda menos. As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas; mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: “Se te libertas, morres!”As árvores têm que se resignar, precisam das suas raízes; os homens não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu e quando nos metemos na terra é para apodrecer. A seiva do solo natal não nos sobe pelos pés em direcção à cabeça, os pés só nos servem para andar. Para nós só as estradas contam. São elas que nos guiam _ da pobreza à riqueza ou a outra pobreza, da servidão à liberdade ou à morte violenta. Elas fazem-nos promessas, levam-nos, empurram-nos e depois abandonam-nos. E então morremos, tal como nascemos, à beira de uma estrada que não escolhemos (...).»

Amin Maalouf, "Origens"

Tuesday, September 11, 2007

Faço-te um EEG, dir-te-ei em quem votas

Segundo investigadores norte-americanos, ser de esquerda ou direita também está no cérebro (leiam a notícia no DN).

Bem, eu já sabia disso.
Sempre acreditei que a diferença entre as pessoas com ideologias de esquerda e as com ideologias mais conservadoras estivesse no cérebro: no facto de o terem ou não.

A luta anti-imperialista dos camaradas do PC

Este fim de semana estive na Festa do Avante e aproveitei para me alimentar com algo que representa, como todas as restantes ideias deste tão revolucionário partido, a luta anti-imperialista.
Humm... Aquele frango do KFC sabia mesmo a Revolução.
Já lá faltava comida decente para acompanhar com a Coca-Cola.

Pátria ou morte, venceremos! Ou não.

Tuesday, August 7, 2007

O Buda que se cuide!

Uma equipa de cientistas escoceses afirma ter descoberto uma nova técnica para fazer levitar objectos ultra-pequenos. Espero que se fiquem mesmo pelos objectos de reduzidas dimensões, senão o pessoal que anda praí a passar semanas e meses em meditação para conseguir uma levitação (invisível a olho nu) começa a ser tomado como parvo. E nós não queremos isso. A sério.

Wednesday, July 18, 2007

Gestores

«Uma conceituada entidade norte-americana apresentou um estudo sobre a qualidade dos gestores, no qual os gestores portugueses aparecem classificados nos últimos lugares da lista. Rapidamente os referidos fizeram saber que a má classificação atribuída à sua gestão se deve ao facto de não poderem despedir trabalhadores a seu bel-prazer. Pela justificação apresentada se vê o “calibre” da maioria dos gestores portugueses.» João Simões, Quinta do Anjo in destak, 18 Julho, pag. 19

Thursday, July 12, 2007

Poema Dadaísta - A pedido do Martinho, cá está ele

Caminhos ajuda acreditamos
ter cama de sentido acusar que...
Ela crime faz casal
"não aprecia abrir o do abandono"
muito não no na a grande fé para quatro
dos também sempre imposto
querer
atmosfera
no entrar todos clareza
espaço
profunda

Monday, July 9, 2007

Nacionalismo ridículo

Foi uma demonstração ridícula de nacionalismo a eleição das 7 maravilhas de Portugal.
As maravilhas internacionais foram escolhidas por pessoas de todo o mundo; são locais internacionalmente conhecidos, muitas delas com uma simbologia e história que liga vários povos.

Pergunto porque não se terão lembrado de começar o Euro2004 com um Famalicão-Moreirense.

Nascer & Morrer - chamada de atenção

Um comentário deixado no post "Nascer & Morrer" chamou a minha atenção para o facto de este parecer conter uma crítica à despenalização do aborto em Portugal.

Quem acompanha isto e, principalmente, quem me conhece, sabe que não é disso que se trata.
Aliás, nem me refiro apenas a crianças quando digo "quem morre antes do tempo".
E o que me preocupa não são as crianças que não chegam a nascer porque ninguém as quer, mas aquelas que, tendo nascido, sendo queridas (ou não), acabam por sofrer.
A exploração sexual, os "danos colaterais" das guerras, a fome, os maus tratos...

Friday, July 6, 2007

O pessoal queixa-se, vejam lá!

«Segundo Jorge Rebelo de Almeida, também nos negócios o Brasil prima pela falta de incentivos, além do «sistema fiscal ser muito pesado», o que exige grande esforço dos empresários portugueses. Ao nível laboral, é fácil despedir pessoas, mas «99,9% dos casos vão parar ao Tribunal do Trabalho», o que representa «um custo muito penoso». »

in http://www.destak.pt/artigos.php?art=1913

Ou seja:

Aquilo ali é fixe porque se pode despedir à vontade, o chato é que o pessoal se queixa.

A/C.: Alberto Caeiro

Caro Heterónimo,

Solicito que V.Ex. se digne a deixar algum espaço diponível na Realidade pois há mais gente que quer deitar-se lá.

Com os melhores cumprimentos,

Ana

Wednesday, July 4, 2007

E agora?

A FRASE SEGUINTE É VERDADEIRA.
A FRASE ANTERIOR É FALSA.

Drummond de Andrade II - Quadrilha

"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história."

Drummond de Andrade - No meio do caminho

"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra."

Nascer & Morrer

Quando era miuda e ouvi expressões como "os velhos têm que dar lugar aos novos", levei isso à letra, como qualquer outra criança.
Pensava, assim, que o mundo estava realmente organizado dessa forma: quando um velho morria, nascia um bebé.
Era giro pensar assim.
Até ao dia em que percebi que não só de velhice morre o homem.




Quem substitui quem morre antes do tempo?

Monday, July 2, 2007

Nem toda a poesia tem que ser poética

Gosto muito de poesia. Mesmo. Mas tenho alguma dificuldade em lidar com o meu lado poético. A razão principal é: há pessoas que defendem que este não existe.
Por exemplo, às vezes estou a escrever algo: "Hoje acordei..."
E alguém que lê diz: "foda-se Ana, isso não é poesia!"
Então tento modificar e "apoesiar" a coisa:
"Hoje amanheci..."; "Hoje abri os olhos para o mundo...".
E até gosto do resultado. Mas a verdade é que acordei. Simplesmente. E acho que isso também pode ser poético.
Tipo,
"Hoje acordei e fui trabalhar
já não há daquelas bolachas que gosto
que a Isabel trouxe do Carrefour de Telheiras
A Filomena trouxe umas parecidas, do Modelo
mas não é a mesma coisa."

Eu acho que isto é poesia. Matem-me, por isso.

Receita dadaísta para fazer um poema

A receita poética de Tristan Tzara é:
"Apanhe um jornal
Agarre uma tesoura
Escolha um artigo do jornal da dimensão que queira dar ao seu poema
Recorte o artigo
Depois recorte as palavras do artigo e ponha-as numa bolsa pequena
Sacuda-a suavemente
Tire cada palavra uma após da outra
Copie honestamente na ordem em que saíram da bolsa
E o poema estará pronto e semelhante a si
Ei-lo
Você será um poeta original e de fascinante sensibilidade, ainda que a plebe não o compreenda."

Logo à noite vou fazer um poema dadaísta.

Friday, June 29, 2007

As minhas maravilhas

Apesar das piadas que tenho andado a fazer por aí em torno do acontecimento, já votei.

E votarei as vezes que forem precisas para tirar aquela maldita Torre Eiffel dos lugares cimeiros do ranking.
As minhas eleitas foram:
Machu Picchu
Chichén Itzá
Taj Mahal
Stonehenge
Estátuas da Ilha de Páscoa
Angkor
Kremlin;
As duas últimas foram escolhidas por exclusão de partes. Existem outras que teria preferido, mas que não constam da lista.
Gosto mesmo é de Machu Picchu.


As "Novas" Sete Maravilhas

Acho muito boa esta ideia de se eleger as novas 7 Maravilhas.
Afinal, a única sobrevivente das Sete Antigas (e que é mesmo a mais antiga) é "As Pirâmides de Gizé".
O que precisamos agora é de maravilhas juvenis, com sangue na guelra.
Tipo Stonehenge.
Ou a Acrópole de Atenas.

Thursday, June 28, 2007

Boa notícia

Vamos mudar para uma sala com janelas.

Ainda não sei onde é.
Mas tem janelas.


Dúvida

Gostava de saber, porque me parece que tenho andado enganada desde sempre, qual é o significado da palavra "público", nomeadamente quando nos estamos a referir a um organismo.
Sff.

Na paragem do autocarro

"Vem às onze e meia".
"Onze e trinta", corrijo. Onze e meia é 11h06, acho eu.
Mas não. Afinal dá p'ras duas coisas. Afinal, p'ra ele, o autocarro também vem às onze e meia.
Está em Portugal há 7 anos. Nunca tinha saído do Brasil antes disso. «Mas começou faltando dinheiro...aí, meus pai[s] disseram:"vai p'ra Portugal"».
Fala com expressão e voz que não mostram saudade, apesar de as ter da família: os pais, os 6 irmãos. 'Acostumou' com Portugal, gosta do que ele acha serem os portugueses. "Do que ele acha" digo eu, ele apenas refere gostar dos portugueses. Morou 45 dias na Amadora, diz ele. Depois foi para a Charneca, depois para a Costa; seguiram-se uns tempos no Alentejo e finalmente veio morar para aqui.
"Gosto disso aqui. É calmo. Gosto das pessoas daqui, são muito simpáticas."
Pergunta quando serão as festas aqui na zona. Foi nessa altura que o conheci, o ano passado, no café.
"São na 2a quinzena de Julho".
Provavelmente não estará cá. Está a trabalhar em Espanha, agora, onde não ganha muito mais do que ganhava aqui, "mas pelo menos vem todo no final do mês". Pensa voltar p'ra Portugal em breve, já tem saudades. Fala deste país como da sua casa. Uma segunda casa. O antigo patrão quere-o de volta e promete-lhe que as coisas vão ser melhores, que vai poder pagar-lhe tudo ao fim do mês. Vê-se no olhar dele que acredita e quer voltar. Já não é muito novo. Quer voltar. Para casa. P'ra cá.
O autocarro chegou.

Tuesday, June 26, 2007

Passividade

Se eu quisesse seguir sempre em frente,
por onde outros já foram,
à mesma velocidade,
parar onde é suposto,
deixar entrar e sair pessoas
sem qualquer tipo de discriminação...
seria um comboio.


Foto tirada e cedida por PhoenixOcean

Liberdade

Há sempre um buraco por onde escapar.


Foto tirada e cedida por PhoenixOcean

Thursday, June 21, 2007

Coisas que detesto

Detesto gravatas.
A razão-mor da sua existência baseia-se no enorme gozo que dá tirá-la ao fim do dia.

Wednesday, June 20, 2007

QUIZ - Descubram os verdadeiros "maus-da-fita"

Dos seguintes pares abaixo, indique qual das duas pessoas é o "verdadeiro-mau-da-fita":

a) O Sócrates que mentiu sobre as suas habilitações OU António Caldeira (por exemplo) que falou sobre isso, considerando-o um escândalo democrático?

b) O mestre Américo que "difamou" a Casa Pia, ao denunciar a pedofilia que sempre existiu por lá OU o Provedor da dita Instituição (e o próprio Estado), que deveriam ser quem protege as crianças deste tipo de coisas?

c) O pessoal de Vendas Novas (mesmo todos, CM incluída, claro) que considera que as urgências naquele local são necessárias e as "obrigou" a reabrir OU o Ministério da Saúde, que nunca lá partiu a cabeça?

c) As crianças e jovens que cometem crimes OU a Sociedade que os educa?

d) O Lobo-Mau OU o Capuchinho Vermelho?

A queixa-crime que veio dos céus

Sócrates (o Nosso Primeiro, como é carinhosamente tratado lá em casa), apresentou uma queixa crime contra um blogger que "piadou"/falou sobre a sua "alegada" licenciatura no seu Blog. O blogger, António Balbino Caldeira, não deve estar muito apreensivo: disse aquilo que muita gente pensa, expôs as questões que realmente importam esclarecer e, mais do que tudo, GRAÇAS À DIVULGAÇÃO DA QUEIXA-CRIME NOS MEDIA, foi ouvido (ou melhor, lido).
Questão: Qual é o objectivo da publicação de um Blog?
Vale a pena:

Tuesday, June 19, 2007

O ponto de vista do outro - II

Coitados dos 5 portugueses que vandalizaram a bandeira da Letónia e passaram amargos dias na prisão, sem quaisquer condições. Felizmente regressam a casa, pra junto da família e bem longe daqueles bárbaros que não suportam uma brincadeirinha.
Filhos da puta dos ingleses que vêm p´ra cá só p'ra beber e armar confusão.

O ponto de vista do outro

Certo dia, ao telefone com um amigo do Porto, ouvi dele o seguinte:
"Fuoda-se, Ana, às bezes num perceibo nada do que deizes. Raio de prenauncia lisbueita!"
E não é que tenho mesmo?

Eutanásia

A Eutanásia volta à actualidade. Ao que parece, muitos médicos oncologistas que lidam diariamente com doentes terminais defende a sua legalização.
Sou completamente a favor da Eutanásia.
Acho que esta deveria ser facultada a doentes terminais que entendem não ter qualidade de vida suficiente.
E mais.
Acho que deveria ser obrigatória para aqueles que fazem com que a maioria da população não tenha qualidade de vida suficiente.

Tuesday, June 12, 2007

O Deserto, o Sol e o Vento

"No princípio, era o Deserto; e o Sol amava-o, ternamente, todo o dia. No princípio, o Deserto era liso, todo aberto à luz do Sol, que o abraçava, estreitamente, todo o dia. O Deserto era quente e brilhante e vivia numa passividade feliz – quieto e silencioso.
De noite, o Sol queria o Mar, e o Deserto dormia sozinho, na escuridão. Mas guardava o calor que o Sol lhe dera. E vivia quieto e silencioso, numa passividade feliz.
O Vento chegou de noite, quando o Deserto dormia.
Olhou o Grande Deserto solitário. Soprou-lhe devagarinho, num beijo de aragem...e o Deserto sentiu um arrepio e acordou. O Vento soprou com mais força e o Deserto estremeceu.
- Gostas de mim? – perguntou o Vento.
- Sinto uma alegria nova – respondeu o Deserto.
- É a alegria do movimento. Queres que te dê toda a força do meu sopro?
- Sim – gritou o Deserto – Quero!
Então, o Vento abraçou o Deserto com violência. E toda a noite se ouviu a música forte e harmoniosa que, juntos, cantavam num bailado.
Quando o sol, de manhãzinha, voltou, abriu muito os olhos e empalideceu. Alguém passara a noite com o Deserto: em vez de areal sem forma, que se deixava doirar passivamente, era um Deserto novo, de dunas altas, belas e orgulhosas que recusavam ao sol uma das faces.
- Quem te abraçou, Deserto? – perguntou o Sol.
- O Vento! – respondeu.
- Não te bastava a minha luz e o meu calor?
- Nunca me deste vida.
- A tua vida é sombra?
- A minha vida, Sol, recebi-a do Vento. A minha vida é areia em movimento e o som que dela se desprende eu guardo em mim.
- O movimento é dor; o som é queixa.
- Aceito a dor que é a vida; e cantarei, no braço do Vento, a dor e a alegria de criar, com ele, as minhas dunas."

(Lenda angolana, adaptada)

Thursday, May 10, 2007

Bücherverbrennung

Há exactamente 74 anos, foram queimados em praça pública, em várias cidades da Alemanha, livros de escritores alemães inconvenientes ao regime nazi (e.g., Einstein, Freud, Thomas Mann); obras que se desviavam daquilo que os nossos amigos nacional-socialistas defendiam. Isso remete-me para uma citação de Heinrich Heine, um dos "ardidos":

"Onde se queimarem livros, mais cedo ou mais tarde, o homem também acabará destruído"

Como isto tem andado, "pelo sim e pelo não" (adoro esta expressão), vou já tratar de digitalizar os livros revolucionários que possuo.
Mas qualquer coisa já sabem: Eu não conheço Marx, nunca falei com Trotsky e Lenine é um músico brasileiro.

Wednesday, May 9, 2007

Municípios atentos

Uma pesquisa feita a mulheres em idade "activa" na cidade de Esperantina, no Estado brasileiro de Piauí, revelou que cerca de 72% delas nunca tinham atingido o orgasmo.
Considerando a gravidade da situação, os vereadores instituíram o dia 09 de Maio, o Dia do Orgasmo.
Não sei o que se celebra nesse dia, se o facto de quase 3/4 das mulheres da cidade nunca terem atingido o orgasmo, ou se é um tipo de incentivo aos parceiros/as dessas mulheres; algo do tipo:

"Caros munícipes, hoje é dia do orgasmo e, neste âmbito, solicitamos que faça a sua mulher vir-se, sff. Sem outro assunto de momento. Cordialmente. O Munícipio de Esperantina"

Friday, April 20, 2007

Está a chover

Este tempo chuvoso no fim de Abril é uma merda..

A manifestação de extrema direita agendada para sábado, em Lisboa;
A provável eleição de Sarkozy em França;
A simples existência de Le Pen e de pessoas que o apoiam;
Um estudante sul-coreano revoltado que afirma: "vocês fizeram-me fazer isto";
A ligação dos skinheads às claques de futebol (que toda a gente já sabia existir, mas agora é que foi "descoberta");
Um cartaz xenófobo que não é crime;
O sexismo das campanhas publicitárias;
O programa "A bela & o mestre";
A exploração sexual de pessoas;
Bento XVI;
O aumento brutal das chamadas recebidas na linha SOS Imigrante;
Os políticos de esquerda com práticas e ideias de direita;
Os políticos de direita com práticas e ideias de extrema-direita;
A extrema direita;
A pena de morte;
Conflito Israel/ Palestina;
EUA...

Bem, pode ser que o tempo melhore no fim-de-semana.

Thursday, April 19, 2007

Não me chames estrangeiro...

A propósito d'O Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos (AEIOT - 2007)


"Não me chames estrangeiro, só porque nasci muito longe
ou porque tem outro nome essa terra donde venho.
Não me chames estrangeiro porque foi diferente o seio
Ou porque ouvi na infância outros contos noutras línguas.
Não me chames estrangeiro se no amor de uma mãe
tivemos a mesma luz nesse canto e nesse beijo
com que nos sonham iguais nossas mães contra o seu peito.
Não me chames estrangeiro, nem perguntes donde venho;
é melhor saber onde vamos e onde nos leva o tempo.
Não me chames estrangeiro, porque o teu pão e o teu fogo
me acalmam a fome e o frio e me convida o teu tecto.
Não me chames estrageiro; teu trigo é como o meu trigo,
tua mão é como a minha, o teu fogo como o meu fogo,
e a fome nunca avisa: vive a mudar de dono.

(…)

Não me chames estrangeiro; olha-me nos olhos
Muito para lá do ódio, do egoísmo e do medo
E verás que sou um homem, não posso ser estrangeiro”

Rafael Amor

Wednesday, April 11, 2007

Ou o Sol, ou o Mar



"(...) antes do vôo, Dédalo advertiu o filho de que deveriam voar a uma altura média, nem demasiado próximo ao Sol, para que o calor não derretesse a cera que colava as penas, nem demasiado baixo, para que o mar não pudesse molhá-las."

Detesto o meio, o intermédio, o talvez, o assim-assim, o tanto-faz, o não sei, o possivelmente, o mediano, o aceitável...

Sou demasiado parecida com Ícaro.

Tuesday, April 10, 2007

"Tierra y Libertad"


Efemérides:
A 10 de Abril de 1919, é assassinado o revolucionário mexicano Emiliano Zapata.
Deixo-vos um discurso do subcomandante Marcos do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) - incluído num disco de Manu Chao:

«El general en jefe del ejercito libertador del sur Emiliano Zapata Manifiesto Zapatista en Nagua. Al pueblo de México, a los pueblos y gobiernos del mundo:Hermanos, Hermanos nosotros nacimos de la noche en ella vivimos y moriremos en ella pero la luz será mañana para los más, para todos aquellos que hoy lloran la noche, para quienes se niega el día. Para todos la luz, para todos todo. Nuestra lucha es por hacernos escuchar y el mal gobierno grita soberbia y tapa con cañones sus oídos, nuestra lucha es por un trabajo justo y digno y el mal gobierno compra y vende cuerpos y vergüenza, nuestra lucha es por la vida y el mal gobierno oferta muerte como futuro, nuestra lucha es por la justicia y el mal gobierno se llena de criminales y asesinos, nuestra lucha es por la paz y el mal gobierno anuncia guerra y destrucción.Techo, tierra, trabajo, pan, salud, educación, independencia, democracia, libertad, estas fueran nuestras demandas en la larga noche de los 500 años, estas son hoy nuestras exigencias

Monday, April 9, 2007

Não comas doces, senão vem o Salazar e arranca-te as unhas!









Isabel do Carmo, uma conhecida, competente e respeitada médica endocrinologista, fundou com o marido as Brigadas Revolucionárias e mais tarde, o Partido Revolucionário do Proletariado (PRP) - em 1973.

Hmm...Até para fazer uma dieta equilibrada precisei de uma revolucionária.

Oh mãe, mas eu gosto mais do cartaz ilegal!


O cartaz dos Gato foi "legalmente removido", uma vez que se encontrava "colocado ilegalmente".
O que penso da nossa lei é parecido com a opinião que tenho da nossa democracia. Aliás, está tudo ligado.

Notícias

Há títulos de notícias verdadeiramente interessantes...

"Cartaz xenófobo não é um crime" - CM; 30/03/2007

"Ministro diz que ouve mas já está tudo decidido" - CM; 03/04/2007

Bem, não são os títulos só por si que dão piada à coisa, claro.

Thursday, March 29, 2007

Democracia

cartaz afixado pelo PNR no Marquês de Pombal


O PNR é um partido legal, um partido considerado democrático, que concorre legalmente a qualquer tipo de eleições democráticas do país. FODA-SE! (sem asteriscos) É isto que é a democracia, em Portugal?

EU QUERO QUE SE FODA A DEMOCRACIA!

As verdadeiras divagações de volta a casa :)

El océano sigue siendo el mejor lugar para vivir

Sonho

"Em sonhos, é sabido, não se morre; aliás essa a única vantagem"

IMIGRANTES: "nós" precisamos "deles"

Em Portugal existiam, em 2005, cerca de 276 000 cidadãos estrangeiros com estatuto de residente, a maioria dos quais na região de Lisboa e Vale do Tejo. A distribuição por sexo está cada vez mais equilibrada, embora o número de imigrantes so sexo masculino ainda seja superior. A maioria destas pessoas encontra-se na idade activa - dos 20 aos 44 anos.


Comparando os dados com outros países da U.E., verificamos que Portugal tem um número de imigrantes ainda muito baixo - cerca de 5% da população (e.g., no Luxemburgo, os imigrantes são cerca de 37% dos cidadãos, grande parte deles imigrantes portugueses).


Sem os imigrantes, Portugal seria mais velho, teria menos pessoas em idade activa, menos crianças e muito mais mulheres que homens. O País continuará a receber outras nacionalidades, mas seriam precisos muito mais cidadãos para inverter a tendência de envelhecimento demográfico. Além disso, a maioria dos imigrantes, nomeadamente os pouco qualificados, veio para Portugal numa altura de crescimento económico e falta de mão-de-obra (construção da Expo 98, autoestrada do Sul, estádios do Euro 2004, etc).


Numa Europa cada vez mais inter/multicultural, é necessário adequar as políticas e valores à população - sim, o sistema é que tem que ser adaptado às pessoas, e não o contrário.

Devem ser criadas as condições para que as pessoas possam usufruir dos seus direitos - nomeadamente o mais fundamental: o direito a ver respeitos os seus direitos humanos (art 1: todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros em espírito de fraternidade).


Razão, consciência... Sim, é verdade que só nós, seres humanos, as possuímos, mas ao ver imagens como esta abaixo, chego a pensar que talvez não sejam assim tão úteis para alguns.




manifestação nacionalista, onde um nacionalista exibe orgulhosamente o seu nacionalismo

Monday, March 26, 2007

Teorias e Realidade

1. A probabilidade de ocorrência de um acontecimento é igual ao quociente do número de casos favoráveis pelo número de casos possíveis;

2. A teoria pavloviana do Condicionamento Clássico defende que um estímulo A pode obter uma resposta/reacção B se antes estiver associado a um estímulo B (que provoca essa resposta):

Estímulo B --------------------------» Reacção B
Estímulo A + Estímulo B ----------» Reacção B
Estímulo A --------------------------» Reacção B

3. A teoria do Condicionamento Operante, de Skinner, defende que um reforço positivo faz com que o comportamento que o originou se repita, enquanto que um reforço negativo ou uma punição faz com que este se extinga;

4. Quando pretendemos provar que A causa B, realizamos testes estatísticos. A análise desses testes vai permitir rejeitar ou não a hipótese nula (H0), que é definida por uma igualdade e que geralmente queremos rejeitar. É-nos permitido rejeitar H0 quando a probabilidade de a rejeitarmos sendo ela verdadeira é muito pequena (geralmente, inferior a 0.05).

Tudo isto é lógico, racional, seguro, calculável, etc, e podia ajuda-me a tirar da cabeça a ideia de que isto pode correr bem:

1. porque a probabilidade de que isso aconteça é muito pequena;
2. porque os momentos "bons" que passamos estão associados aos "maus" e isso faz com que as minhas reacções/emoções sejam também elas negativas, mesmo nos bons momentos;
3. porque as "punições" que o meu comportamento origina, da tua parte, fazem com que eu o iniba...

Mas não dá.
E tudo por causa da 4ª alínea.
Porque até me é permitido rejeitar o "vai dar certo", visto a probabilidade de rejeitar sendo verdadeiro ser tão pequena.


Mas não consigo deixar de arriscar. Nunca consigo.
Não consigo deixar de pensar nesses 0.05.
Não consigo deixar de apostar na hipótese nula, apesar de tudo apontar para que esta esteja errada.
Porque não consigo viver com a ideia de que ela pode estar certa, e eu não arriscar.

Afinal, quem é o LOBO-MAU?

Nunca percebi se o Lobo-Mau que come o capuchinho e a avó é o mesmo que quer comer os três porquinhos.
Têm o mesmo nome, são ambos lobos e ambos querem comer algo que não quer ser comido.
Parece-me que se trata da mesma criatura.
Só não percebo porque é que isso não é referido em nenhuma das duas histórias.

Thursday, March 22, 2007

Ainda a propósito da Água - Neruda


"Noite na Ilha" (Pablo Neruda)

Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei,
e tua boca saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

Dia Mundial da Água

A propósito do Dia Mundial que hoje se assinala, gostaria de deixar aqui uma frase de "Le Petit Prince", de Saint-Exupéry:

"O que torna belo o deserto - disse o principezinho - é que ele esconde um poço nalgum lugar."

Foto tirada e cedida por PhoenixOcean

Wednesday, March 21, 2007

Dias Mundiais

Hoje começa a Primavera, uma das minhas quatro estações preferidas :)

Foto tirada e cedida por PhoenixOcean

É, além disso, o Dia Mundial da Floresta, o Dia da Árvore, o Dia Mundial da Infância, o Dia Mundial do Sono, o Dia Mundial para a Eliminação da Discriminação Racial e o Dia Mundial da Poesia. A propósito deste último, e indirectamente ligado com alguns dos outros, decidi colocar aqui a tradução brasileira de um dos "meus" poemas preferidos.


"O Analfabeto Político" (Bertolt Brecht)

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Tuesday, March 20, 2007

Leituras - "Gabo"

Ao publicar o post anterior, senti-me injusta para com aquele que considero ser o maior escritor de todos os tempos. Não o melhor, mas com toda a certeza o maior, na minha opinião: Gabriel García Márquez, Gabo.










Assim, para me redimir, vou falar aqui um pouco daquela que considero ser a sua melhor obra e que é, sem dúvida alguma, o meu livro preferido.

Cem anos de solidão (Cien Años de Soledad), é um livro realista, mas absolutamente fantástico.
O livro conta a história de 100 anos de vida da família Buendía, onde se acompanham várias gerações. Foca aspectos políticos, psicológicos, sociais, relacionais, económicos, amorosos, etc. Cada personagem encerra um mundo dentro de si, estão perfeitamente caracterizadas.
Depois de ler "Viver para contá-la", uma auto-biografia do autor, percebi que muito do que ele descreve neste livro é baseado na sua própria vida e penso que é sempre bom quando um livro mundialmente famoso se baseia em vidas vividas, é sinal de que estas valeram mesmo a pena.
O difícil, neste livro, é decorar as personagens. A sério. Além de serem uma data delas, os nomes são quase sempre os mesmos: nas personagens masculinas, uma série de combinações dos nomes Aureliano, José e Arcádio.

Sugiro a sua leitura, absolutamente. E umas 100 vezes, como eu já li.


Ainda os contos de fadas - Sugestão de leitura

Vou fazer uma coisa que não tenho o hábito de fazer: recomendar um livro que ainda não li. Enquanto pesquisava opiniões sobre os contos de fadas, encontrei referências a um livro de Jakob Arjouni, um escritor alemão: "Idiotas - Cinco Contos de Fadas". Aqui vai a sinopse:

«Imagine que uma fada lhe concede um desejo. Vai conseguir pensar no tal desejo? Tenha cuidado. Tenha muito cuidado…

Imagine que é visitado por uma fada e que tem a possibilidade de ver um desejo realizado. Não é uma fada no sentido tradicional do termo, mas uma lacónica funcionária administrativa com uma agenda completamente preenchida e excesso de trabalho, que imediatamente lhe explicará que não pode desejar nada que pertença aos domínios da Imortalidade, da Saúde, do Dinheiro e do Amor, para a seguir lhe chamar a atenção para o facto de a satisfação dos desejos nem sempre resultar da forma que esperamos. Como todas as outras coisas na vida, a satisfação de um desejo tem sempre, pelo menos, duas faces. Talvez então você comece mesmo a pensar no que desejaria realmente, apenas por acreditar que não tem nada a perder. Mas irá conseguir pensar num desejo – no tal desejo? Ou irá optar simplesmente, como a maioria das pessoas, pelo objecto mais caro que a fada tem para oferecer, tipo uma máquina de lavar loiça?»

Penso que vale a pena ler, promete ter os ingredientes que considero essenciais num livro (e numa pessoa): obriga-nos a pensar, rindo - ou faz-nos rir a pensar. Vou tentar encontra-lo e, depois de o ler, falarei do dito com maior conhecimento. Mas aqui fica a sugestão.

Contos de fadas V - Uma excepção

Há um conto deste tipo que, apesar de também merecer algumas críticas, penso que no geral não é tão mau como os citados anteriormente. Falo da menina com cauda de peixe que queria ser humana - "A Pequena Sereia". Existem versões diferentes desta história, mas a que gosto especialmente é aquela que não tem um final (tipicamente) feliz para a jovem sereia. Independentemente do facto de o príncipe ser merecedor do seu amor ou não, de ela se ter humilhado para que ele se apaixonasse por ela, de ter abdicado da família e do seu mundo por uma paixão que não sabia se ia correr bem - Ariel é, p'ra mim, uma menina-mulher de enorme carácter: é decidida, sabe o que quer e é corajosa, porque lutou por aquilo que queria, embora apavorada. Só isto, já bastava para ter a minha mais sincera consideração, mas o ponto alto da história - aquele que me faz gostar tanto da miúda - é exactamente o final: contrariamente ao que é dito nalgumas versões, quando o príncipe casou com a outra, Ariel não sentiu que "todo o seu sacrifício havia sido em vão". Se ela tivesse pensado dessa forma, tinha matado o príncipe para salvar a sua própria vida e regressado conformada ao mar. Mas não. Também não penso que foi um acto altruísta de negação dela própria em prol do amado. Nada disso.
Ela percebeu, sim, que o Amor e Paixão que sentira durante o tempo que passara com ele é que eram a verdadeira vida, e que, por essa razão, a sua já tinha valido a pena.
Preferiu morrer viva do que continuar a sobreviver.

Contos de fadas IV - A Branca de Neve

Não resisti a continuar o "passeio" pelos detestáveis contos de fadas. Desta vez, relembro o célebre "Branca de Neve e os Sete Anões". Além das críticas a fazer à construção completamente sexista das personagens (críticas essas que abrangem quase todos os contos), neste conto há algo específico que me desconcerta: a saliência tão grande da importância atribuída à beleza física. A Raínha-Má queria ser a mais bonita, mas foi ultrapassada pela Branca-de-Neve. Esta, preferiu viver escondida na floresta, bonita, em vez de lutar pelo trono que lhe pertencia, por morte do pai. Não sou, de forma alguma, apologista da monarquia, mas temos que ter em conta a época. Se ela tinha assim tão bom coração, acham "normal" que abdicasse dos seus súbditos, deixando-os nas mãos da madrasta má? Sinceramente, não me parece que a dita personagem seja do tipo altruísta. Eu, no lugar dela, organizaria uma revolução no reino: p'ra já, contaria com o apoio dos meus 7 pequenos e recentes amigos (e certamente com o caçador que me poupara a vida, fiel ao meu pai) - e recuperaria o meu lugar. Mas não. Em vez disso, ficou a fazer de dona-de-casa e assim que lhe apareceu alguém minimamente atraente, casou com ele. Sim, porque apesar de tudo o que os anões e o caçador fizeram por ela, não eram suficientemente atractivos para aquela que era (segundo o espelho) a mulher mais bonita do mundo (ou era só do reino?). Posto isto, não me venham dizer que a raínha é que tinha a mania que era boa.

Saturday, March 17, 2007

Contos de fadas III - A princesa e a ervilha

Lembrei-me agora de outro exemplo daquilo que considero ser a melhor maneira de transmitirmos os valores às crianças - sim, refiro-me mais uma vez aos pedagógicos contos de fadas.
Lembram-se certamente da história da princesa e a ervilha. Bem, então se se lembram: será que me podem explicar em que parte da narrativa ela mostrou interesse em casar com o príncipe? Se não estou em erro, e tenho quase a certeza que não, ela apenas foi ter ao castelo porque apanhou uma molha do caraças e precisava de um lugar para passar a noite. Mas a raínha (sogra do c****** que ela foi arranjar), pensou logo: "hmm, queres dormir, né? Tá-me cá a parecer que queres é casar c'o meu filho". E então, esperta como só uma raínha de contos de fadas pode ser, decidiu f**** a noite à rapariga com a p*** da ervilha. E a gaja chega ao quarto e deita-se em cima de uma data de colchões e não acha estranho! Quero dizer, se me dessem um quarto p'ra dormir e a cama tivesse vinte e tal colchões eu, no mínimo, perguntava: "PRA QUÊ?". Mas não, a rapariga era tão pura (afinal, era uma princesa de verdade, f***-se!) que não quis chatear as pessoas com pormenores tão sem importância. E é sempre bom ver o carácter da rapariga (que é, aliás, o de quase todas as personagens femininas nestes contos) que, assim que lhe dizem que acreditam que ela é uma princesa de verdade e que pode casar com o príncipe ela não diz "ai" nem "ui" - provavelmente até agradeceu, que eu tou mesmo a ver o tipo. Era assim tão difícil dizer "Hmm. Muito obrigada pela gentileza de me ter deixado passar aqui a noite, mas agora, se não se importam, preferia voltar ao meu palácio e à minha vidinha que eu não conheço o seu filho de lado nenhum e já ando a comer um gajo lá na corte, portanto é óbvio que casar-me com ele - por uma questão de bom-senso - está completamente fora de questão". Custava? A boa educação tem limites!

Friday, March 16, 2007

Contos de fadas II - A Cinderela

Quando era miúda e comecei a ter contacto com este tipo de histórias fazia-me imensa confusão a cena dos príncipes: como lia e ouvia as histórias em português, julgava que a Branca de Neve, a Cinderela, etc eram portuguesas e, por dedução lógica (na altura não sabia que era este o nome, claro), o príncipe da história era sempre o mesmo - o príncipe de Portugal; e a minha mente infantil era povoada por um ódio terrível a esse infame príncipe que andava a "comer" as heroínas todas (bem, na minha mente infantil eles não se comiam, claro, só davam beijinhos). Por isso, como imaginam, procurava todos os defeitos de tal personagem, para confirmar que o meu ódio tinha fundamento. Um deles ainda hoje me faz confusão:
Acham que ele gostava mesmo da Cinderela? O tipo apaixona-se perdidamente no baile e depois vai à procura dela. Então, de maneira esperta, anda de casa em casa à procura do pé onde cabe o sapato que ela deixou cair. Tudo bem. É uma maneira de procurar como outra qualquer, e naquela altura não haviam muitas opções. Mas se ele gostava mesmo dela não acham que o sapato era desnecessário? E se ela tivesse os pés inchados quando fosse experimenta-lo? E não havia mais ninguém a calçar o mesmo número que ela? Imagino a trabalheira que aquela rapariga tinha p'ra comprar calçado. E...quero dizer...ele conhecia-a. Tinha-a visto. Bastava olhar para ela e descobrir que era ela. Não concordam?

Gostar

As pessoas não gostam de nós porque adivinham aquilo que desejamos,
As pessoas mostram gostar de nós quando,
sem saberem quais são os nossos desejos,
se esforçam para descobri-los através do que dizemos,
do que pedimos
e tentam desesperadamente satisfazê-los.

A Paixão II - Analogia com a Excitação

Ontem à tarde, depois da publicação do post anterior, tive a discutir a paixão com um amigo. Temos opiniões bastante semelhantes sobre a maioria dos temas, mas neste estamos completamente em polos opostos. Ele acha que a Paixão está para o Amor como a Excitação para o Orgasmo: "Os seres vivos não gostam de se sentir excitados, o estado de excitação é doloroso - visa a apenas a satisfação e é aí que está o verdadeiro prazer (...). O mesmo se aplica à Paixão: é apenas uma emoção que sentes que visa a plenitude do Amor." - disse-me com aquele ar de professor universitário revolucionário de filme americano, que ele sabe que atrai mas finge que se está "nas tintas". Fiquei intrigada com esta ideia tão fisicamente lógica, principalmente vinda dele e fui pesquisar opiniões de entendidos na matéria. Aquilo que ele me tinha dito tinha-me levado instantaneamente a invocar Freud, por isso fui procurar saber se o meu colega austríaco achava que isso era assim tão linear, e fiquei agradavelmente surpreendida com ele. Passo a citar:

«Freud concluiu que, em grande parte, ou mesmo na grande maioria dos casos, o prazer era acompanhado da descarga de energia impulsiva, e o desprazer do acúmulo dessa energia. Mas havia casos em que o inverso também era verdadeiro, como exemplo citou o aumento da tensão sexual que provocava o prazer. (...) a relação de carga e descarga de energia e os sentimentos de prazer e desprazer não podia simplesmente determiná-los, ou melhor, não eram determináveis. Assim ficou apenas a hipótese que "a proporção e o ritmo do aumento, ou descarga de catexia podia ser um fator determinante". » (http://sti.br.inter.net/mapinto/)

Ou seja, o que o meu amigo disse é válido. Mas o contrário também se verifica.

Thursday, March 15, 2007

Contos de fadas

Há mulheres que esperam pelo príncipe encantado
Há outras que não acreditam em contos de fadas
Eu simplesmente não os tolero
Não quero ser a tua Cinderela
Não quero que fiques comigo apenas
porque é a mim que serve o sapato de cristal
Quero que me procures tu,
sem qualquer tipo de ornamento
E que me encontres então
não porque algo to indicou
mas porque tu própri@
sem qualquer tipo de convenção
me escolheste.

Se te olho não te vejo

Se te olho não te vejo
Porque o que vejo é o que penso
De ti
E esse não és tu
É como olhar para um espelho
E ver o reflexo do espelho em mim
E é assim que não sou
Não quero ver o teu reflexo
No espelho
Porque esse é o teu lado bom.

Pensar em ti
É como estar diante do mar
Não o conheço
Não o compreendo
Mas vejo-o
E sinto-o
E ouço-o
E é assim que penso nele
E é assim que ele é.

Procuro em ti a divindade que possuis
Pelo facto de não seres deus
Por teres um corpo que sente
Que toca
Que me toca
E que
Esse sim
me põe em contacto com o céu.

Wednesday, March 7, 2007

Zeca Afonso morreu a 23/02/1987, vítima de esclerose lateral amiotrófica.
Será certamente recordado (de maneira positiva) como um resistente que conseguiu trazer a palavra de protesto antifascista para a música popular portuguesa. Espero eu. Mas neste momento já acredito em tudo.
A minha mais sincera homenagem a este grande homem. Até sempre, Camarada!

Wednesday, February 21, 2007

Educação Intercultural

A educação inclusiva não tem a ver com a igualdade.

Tem a ver com um mundo onde as pessoas são diferentes.
Tem a ver com aquilo que podemos fazer para celebrar essas diferenças,
através da nossa aproximação uns dos outros.


Monday, February 19, 2007

O pão

Como podemos querer
Que o pão seja de todos
Os homens
Se nem a natureza o é?
O sol não aquece toda a gente
A chuva não inunda o mundo inteiro
Os rios só correm numa direcção
Mas o pão
É semeado
Plantado
Por todos
Para todos
Em busca de ninguém.

A razão

- Quem és tu?
- perguntou o Homem
- A razão
- Quem me dera não te ter conhecido.

Deitada a ver as estrelas...

Deitada a ver as estrelas
Vi uma que me despertou
E me fez lembrar de ti
Da tua luz radiante
Que adormece
Alimenta
Ilumina
Destrói.









Foto tirada e cedida por PhoenixOcean

O saber ocupa lugar

O saber ocupa lugar
Nas nossas mentes
Faz-nos pensar
Bastante
Perdendo grande parte do nosso tempo
O saber ocupa tempo
Além de espaço
Vive-nos um pouco da vida
Ajuda-nos a fazer escolhas
Escolhas essas que determinam
O lugar que pessoas e coisas
Ocupam dentro de nós
Escolhas que não teríamos consciência
Se não tivéssemos saber.

Se fossemos irracionais

Se fossemos irracionais
Nunca nos passaria pela cabeça
O quão boa era a nossa animalidade
Assim
Sendo racionais
Sabendo-nos dotados de razão
Podemos concluir
Que se fossemos irracionais
A nossa animalidade seria boa.

Se nascemos nus...

Se nascemos nus
Porque é que na nossa morte
Nos vestem a preceito
A Cinderela
No baile
Não veste o vestido à meia-noite

Apaixonei-me por ti

-Apaixonei-me por ti
-Quando?
Agora?
-Não
Já passou
Apaixonei-me
É passado.

Não apagues a luz

Não apagues a luz
Enquanto durmo
Se para dormir a desligas
Para que fechas os olhos?

Peço-te um beijo

Peço-te um beijo
A ti
Mas não porque queira beijar-te
Mas porque tu queres
Ou porque eu quero que queiras
Mas não eu
Eu não quero beijar-te
Se quisesseBeijava
Não te pedia
Pedir é não querer fazer
Nunca se pede o que se quer fazer
Faz-se
Se pedimos algo a alguém
Para que essa pessoa o faça
É porque não queremos fazê-lo
Nós
Por isso é que eu
Apesar dos teus protestos mudos
Nunca te atendo
Quando me pedes
“Ama-me”.

Hoje acordei com a cabeça virada para os pés

Hoje acordei com a cabeça virada para os pés
E percebi que estava bem
Que continuava a ser eu
Isso mostrou-me
Lembrou-me
Que nem sempre a maneira como vemos as coisas
É a única possível
E que todas elas podem estar igualmente certas.

Corpos fechados

Corpos fechados
No mundo
Saltando
Voando
Querendo querer
E não sabendo como
Perdoar
Para tentar viver
Sonhando
O mundo
A seus pés.

Que sentido pode ter a democracia...

Que sentido pode ter a democracia
A justiça
Quando milhões de pessoas em todo o mundo
Morrem à fome
Enquanto uma pequena minoria
Vive à custa da exploração
Do capitalismo
Da mais-valia
Onde é que há igualdade
Quando olhamos para duas crianças
Que por nascerem em sítios diferentes
Em famílias diferentes
Em classes sociais diferentes
Têm diferentes oportunidades
Diferentes vidas
Que raio de mundo é este
Que em vez de salientar a diferença
A discrimina?
Que em vez de respeitar
Mata e destrói?
Que tipo de liberdade é esta
Se é o dinheiro que a compra?
Que tipo de socialismo é este,
Se não tem em conta as pessoas?

Os meus olhos acordaram para o mundo

Os meus olhos acordaram para o mundo
Infelizmente
Porque enquanto estavam fechados
Não via o quão triste ele é
Pessoas sem casa
Sem nome
Sem vida,
só sobrevivência
Pessoas com carros
Com roupas caras
Com casas enormes
Onde só moram elas e o seu egoísmo
Crianças sem pai
Sem mãe
Com os ventres dilatados da fome
Mulheres que pagam
Para que esses mesmos ventres se alisem
Que tapam com cremes o seu verdadeiro eu
Para exibirem um inventado
Homens explorados por outros
Que exploram e vivem à custa disso
Homens que trabalham e sofrem
Homens que não trabalham e vivem
Por isso é que quando os meus olhos se abriram
Instantes depois disso acontecer
Eu desejei que o tempo voltasse atrás
E que eu nunca pudesse ver.

Hoje deve ser um dia não

Hoje deve ser um dia não
Porque não sei que faça
Não sei em que pensar
Em quem pensar
No que pensar
O que fazer
Quem visitar
Quem deixar sofrer
Que sentido dar à vida
Que sentido dar ao mundo
Não sei o que diga
Não sei o que mate
Nem sei o que viva
Dentro de mim
Onde ir, onde ficar
Partir, voltar?
Chorar, rir, soluçar
Mentir
Não sei com quem falar
A quem ouvir
Apesar disso tudo
Sei quem sou
E quem não sou
Por isso é que estes dias são tão difíceis de suportar.

Quando era criança pensava...

Quando era criança pensava
Que todos os Homens eram iguais
Que o preto, o branco, o amarelo e o vermelho das peles
Estavam para a terra como o arco-íris está para o céu,
Para embelezar.
Que todas as pessoas eram boas
Comiam e tinham um lar quente
E uma ceia alegre no natal
Que a fome só existia na televisão
Uma caixa mágica
Com pessoas a fingir lá dentro
Depois fui crescendo e percebendo
Que a fome era verdadeira
Quando via as pessoas na rua a pedir
Uma moeda,
qualquer coisa
Apercebi-me de que as pessoas
Apesar de iguais
Tinham direitos diferentes
Casas diferentes
Famílias diferentes
Mas todos continuavam a ser bons
Cresci ainda mais e reparei
Que as pessoas afinal não não eram assim tão iguais
Que só os pobres tinham fome
E frio
E aos ricos cabia ajudá-los
Com a sua bondade
A sua generosidade de quem se sacrifica em prol dos outros
Hoje não acho nada
Não penso nada
Hoje sei
As pessoas não são todas iguais
Há pessoas diferentes
Muitas, bastantes
Talvez quase todas
Que olham o mundo a sua volta
E não vêem a miséria
Não vêem a fome
O desemprego
A guerra
Estão cercadas por um espelho enorme
Rodeadas pelo seu reflexo
Só se vêem a si mesmas
E essas pessoas não são boas
São más
Muito más
Porque as pessoas boas da minha infância
Não deixam uma criança morrer à fome
Passivamente.