Friday, March 16, 2007

Contos de fadas II - A Cinderela

Quando era miúda e comecei a ter contacto com este tipo de histórias fazia-me imensa confusão a cena dos príncipes: como lia e ouvia as histórias em português, julgava que a Branca de Neve, a Cinderela, etc eram portuguesas e, por dedução lógica (na altura não sabia que era este o nome, claro), o príncipe da história era sempre o mesmo - o príncipe de Portugal; e a minha mente infantil era povoada por um ódio terrível a esse infame príncipe que andava a "comer" as heroínas todas (bem, na minha mente infantil eles não se comiam, claro, só davam beijinhos). Por isso, como imaginam, procurava todos os defeitos de tal personagem, para confirmar que o meu ódio tinha fundamento. Um deles ainda hoje me faz confusão:
Acham que ele gostava mesmo da Cinderela? O tipo apaixona-se perdidamente no baile e depois vai à procura dela. Então, de maneira esperta, anda de casa em casa à procura do pé onde cabe o sapato que ela deixou cair. Tudo bem. É uma maneira de procurar como outra qualquer, e naquela altura não haviam muitas opções. Mas se ele gostava mesmo dela não acham que o sapato era desnecessário? E se ela tivesse os pés inchados quando fosse experimenta-lo? E não havia mais ninguém a calçar o mesmo número que ela? Imagino a trabalheira que aquela rapariga tinha p'ra comprar calçado. E...quero dizer...ele conhecia-a. Tinha-a visto. Bastava olhar para ela e descobrir que era ela. Não concordam?

2 comments:

invisio2nx said...
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invisio2nx said...

Não, não concordo :)

A fábula/Conto da Cinderela é real, isto é, acontece a cada segundo em qualquer lugar no mundo (não da mesma maneira como é contado na história, claro).

Pensa naquele anúncio automóvel que dizia: neste momento 12.000 pessoas estão a ... 52.000 a ...
125.000 a ...

Mas o que tem em comum a fábula da Cinderela com o anúncio?
O essencial está lá. O que é o essencial? É o próprio processo de busca que está presente em todas as histórias (reais ou fábulas).

«É uma maneira de procurar como outra qualquer, e naquela altura não haviam muitas opções»

A parte do sapato simboliza tanto os recursos usados no processo de busca (os expedientes, as manhas, a maneira de conseguir as coisas), quanto as dificuldades.

Há muitas maneiras de olhar a fábula: repara que o príncipe podia ser muito tímido e o sapato foi a maneira que ele encontrou para acabar por meter conversa com ela (e posteriormente expressar os sentimentos que nutria por ela).

Se calhar, o sapato até foi perdido/esquecido de propósito: é a melhor maneira que tens de fazer com que alguém vá atrás de ti... nem que seja só para te devolver o objecto.

Adaptando a história aos dias de hoje, em vez do sapato, pensa por exemplo num telemóvel.

Voltando um pouco atrás:
no tempo das nossas avós nem um beijo podiam dar em público.

Por isso, socorriam-se de outros expedientes, tal como a senhora/menina fingir esquecer o lenço, para levar o cavalheiro a, educadamente, correr para lho devolver. E, de um agradecimento, podia surgir algo mais como uma conversa, «o oferecer-se» para acompanhar a senhora até casa...

Depois namoravam, na melhor das hipóteses, à janela e sob rigoroso controlo dos pais.

O truque do lenço foi, em tempos, muito usado pelas senhoras para mostrar interesse. Na época havia todo um cerimonial, expedientes e (demasiadas) boas-maneiras :)

Apesar das dificuldades, as pessoas não deixavam de amar, senão tu nunca terias nascido.

Felizmente, anos mais tarde, surgiram os cinemas e... de luzes apagadas, sentiam-se livres e trocavam uns beijinhos...

Hoje em dia já não se namora como antes. Olha, por exemplo, há 3 anos estava no cinema com amigos e a certa altura (na escuridão da sala) ouvimos assim uns gemidos (não, não era um filme para chorar) acompanhados de "arfares ofegantes" e um "Ahhhhhh" muito subtil e pronunciado...
Até hoje não sei o que aconteceu... :)

Caramba! Que me dera ter coragem para fazer o mesmo!


Paixão ou amor?
A diferença está no processo. Para mim, são etapas opostas do mesmo processo. Algo tão natural como o ciclo de vida que aprendi desde cedo (todo o ser vivo nasce, cresce, reproduz-se e morre).
A paixão corresponde à fase inicial (normalmente muito intensa) que vai evoluíndo para outras fases/etapas/estados/estágios e conduz (ou não) ao amor.

Eu acredito que o amor também acaba.
Morre quando surge uma nova paixão e aí todo o ciclo/processo se reinicia.
A todo o momento, em todo o lado, algures no mundo... há pessoas a iniciarem e a terminarem esse ciclo.... infinitamente.


Em parte, concordo contigo:
«ele conhecia-a. Tinha-a visto. Bastava olhar para ela e descobrir que era ela». Bastava falar com ela... Ela estava mesmo ali.
Mas quantas vezes não estamos perto da pessoa amada mas temos receio de mostrar o que sentimos?

Ao contrário dos animais, os humanos são muito complicados. Têm muitas dificuldades em lidarem com as emoções e sentimentos e normalmente não reagem muito bem à rejeição.

No entanto, há alguns humanos que são mais complicados do que os outros (como os psicólogos, por exemplo). Têm o condão de voar bem alto, abarcar toda a floresta, mas nem sempre conseguem ver aquela arvorezinha ali em baixo, tão sozinha, tão pequenina, tão carente.

Tudo na vida tem explicação, mas nem sempre vale a pena conhecê-la. Além de roubar a magia do momento, acaba por impedir que se viva.

Enquanto andas à procura de explicações (e definições) para amor e paixão, perdes tempo de vida que podias passar ao lado do teu principe.
Durante vários séculos intelectuais, pintores, escultores, matemáticos, filósofos, escritores (...) procuraram o mesmo que tu...
alguns encontraram definições convincentes e concensuais, outros nem por isso.

Mas todos aprenderam a mesma lição: cada um tem a "sua" definição. Tal como cada um vive a sua própria vida.
Cada um busca e dá sentido à sua própria existência.
Invariavelmente, todo acabam por fazer e sentir o mesmo (de maneiras diferentes) e chegam à conclusão que o importante é mesmo vivê-la.

E há determinadas coisas complicadas que é melhor permanecerem na obscuridade da mente humana.
Há aqueles que aprenderam a lição, e há ainda aqueles que teimam e não desistem de encontrar definições (desperdiçam todo o tempo de vida à procura).

Moral da história: «as palavras, por vezes, são demasiado áridas para retratar a dimensão de certos sentimentos» (Idalberto Chiavenato)


Bem... Acho que vou ficar fã deste blog (se não te importares :)

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«A fábula é uma narrativa alegórica cujos personagens são geralmente animais e cujo desenlace reflete uma lição moral. A temática é variada e contempla tópicos como a vitória da fraqueza sobre a força, da bondade sobre a astúcia e a derrota de presunçosos.
Já entre assírios e babilônios a fábula era cultivada. Foi o grego Esopo, contudo, quem consagrou o gênero. La Fontaine foi outro grande fabulista, imprimindo à fábula grande refinamento. George Orwell, com sua Revolução dos Bichos (Animal Farm), compôs uma fábula (embora em um sentido mais amplo e de sátira política).
As literaturas portuguesa e brasileira também cultivaram o gênero com Sá de Miranda, Diogo Bernardes, Manoel de Melo, Bocage, Monteiro Lobato e outros.
A fabula e consideravelmente uma historia onde os animais falam tem sentimentos andam como gente e diversas outras coisas humanas. No final apresenta uma moral»

http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A1bula


«A fábula, por ser uma pequena narrativa, serve para ilustrar algum vício ou alguma virtude e termina, invariavelmente, com uma lição de moral. A grande maioria das fábulas retratam personagens como animais ou criaturas imaginárias (criaturas fabulosas) , que representam de forma alegórica os traços de caráter (negativos e positivos), de seres humanos.
Coube a Fedro (15.a.c. 50.a.c), escravo alforriado do Imperador Augusto, quando iniciou-se na literatura, enriquecer estilisticamente muitas fábulas de Esopo, todas não escritas, mas transmitidas oralmente, isto é, serviam de aprendizagem, fixação e memorização dos valores morais do grupo social. Deste modo, Fedro, como introdutor da fábula na literatura latina, redigia suas fábulas, normalmente sérias ou satíricas, tratando das injustiças, dos males sociais e políticos, expressando as atitudes dos fortes e oprimidos, mas ocasionalmente breves e divertidas, explicando-nos, todavia, porque teve tanto sucesso, séculos depois, pela sua simplicidade, na Idade Média. Fabulista da época dos Imperadores Tibério e Calígula, nos primeiros séculos da era cristã, e seguidor de Esopo, Fedro fez a sátira dos costumes e personagens da época. Por isso, com o grande incômodo que causaram as suas críticas, acabou sendo exilado. Nesta época, com a morte de Augusto, em 14 a.d, a Monarquia tornou-se um verdadeiro despotismo, sufocando toda a aspiração de literatura e de independência. Em literatura, tudo o que era espontâneo se considerava medíocre. Foi o único poeta do império de Tibério. Publicou cinco livros de fábulas esópicas, com prováveis alusões aos acontecimentos de sua vida.»

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fedro