Monday, March 26, 2007

Teorias e Realidade

1. A probabilidade de ocorrência de um acontecimento é igual ao quociente do número de casos favoráveis pelo número de casos possíveis;

2. A teoria pavloviana do Condicionamento Clássico defende que um estímulo A pode obter uma resposta/reacção B se antes estiver associado a um estímulo B (que provoca essa resposta):

Estímulo B --------------------------» Reacção B
Estímulo A + Estímulo B ----------» Reacção B
Estímulo A --------------------------» Reacção B

3. A teoria do Condicionamento Operante, de Skinner, defende que um reforço positivo faz com que o comportamento que o originou se repita, enquanto que um reforço negativo ou uma punição faz com que este se extinga;

4. Quando pretendemos provar que A causa B, realizamos testes estatísticos. A análise desses testes vai permitir rejeitar ou não a hipótese nula (H0), que é definida por uma igualdade e que geralmente queremos rejeitar. É-nos permitido rejeitar H0 quando a probabilidade de a rejeitarmos sendo ela verdadeira é muito pequena (geralmente, inferior a 0.05).

Tudo isto é lógico, racional, seguro, calculável, etc, e podia ajuda-me a tirar da cabeça a ideia de que isto pode correr bem:

1. porque a probabilidade de que isso aconteça é muito pequena;
2. porque os momentos "bons" que passamos estão associados aos "maus" e isso faz com que as minhas reacções/emoções sejam também elas negativas, mesmo nos bons momentos;
3. porque as "punições" que o meu comportamento origina, da tua parte, fazem com que eu o iniba...

Mas não dá.
E tudo por causa da 4ª alínea.
Porque até me é permitido rejeitar o "vai dar certo", visto a probabilidade de rejeitar sendo verdadeiro ser tão pequena.


Mas não consigo deixar de arriscar. Nunca consigo.
Não consigo deixar de pensar nesses 0.05.
Não consigo deixar de apostar na hipótese nula, apesar de tudo apontar para que esta esteja errada.
Porque não consigo viver com a ideia de que ela pode estar certa, e eu não arriscar.

5 comments:

invisio2nx said...

Presumo que não seja eu o feliz destinatário de tão sentida missiva :D


Ó Ana, desliga o "complicómetro".
Versão resumida: mais vale aceitar (ainda que provisoriamente) uma hipótese falsa/errada e tomá-la (provisoriamente) como sendo certa/verdadeira, do que rejeitar uma hipótese realmente verdadeira.

O meu saudoso professor de estatística explicou isto com o "Teorema da namorada ideal":

É preferível aceitar uma rapariga como sendo a namorada ideal (a tal com quem iremos casar, ter filhos, traír, etc) ainda que nos possamos enganar e mais tarde ela venha a provar que não é realmente a pessoa certa; do que rejeitar uma rapariga logo à partida.

Aceitar provisoriamente uma hipótese falsa permite-nos testá-la até à exaustão e até que ela se revele (como verdadeira ou realmente falsa).

Rejeitar à partida toda e qualquer hipótese impede-nos de encontrar aquela que é realmente a verdadeira.

Logo, deves sempre dar uma oportunidade ao rapaz, pelo menos até ele te vir a desiludir.

Se não deres uma oportunidade ao rapaz, nunca te irás magoar. Mas também nunca poderás ser feliz porque nunca irás encontrar o rapaz certo/ideal.

E, se pensares bem, isto é a base de toda a matemática moderna, assim como a base de todo e qualquer tipo de relacionamento.

Se pensares no algoritmo do SIMPLEX (não tem nada a ver com o Sócrates), frequentemente a melhor solução (solução óptima) é uma solução "de canto".

A cada iteração o algoritmo irá dar-te uma (ou mais) soluções admissíveis (possíveis/potenciais candidatas a óptimas).

Correndo novamente o algoritmo irás saltitar de solução em solução até encontrares aquela que considerarás como a melhor, dentro do leque de possíveis soluções óptimas.

E a vida é mesmo assim.
Vais "saltitando" de namorado em namorado até encontrares aquele a quem te irás entregar de corpo e alma... irás ao fim do mundo, darás filhos, darás a tua vida se for preciso... etc etc etc

Quanto à possibilidade de rejeitares Ho quando a probabilidade de a rejeitares (sendo ela verdadeira) é infimamente pequena (inferior a 5%), normalmente esse raciocínio é aplicado quando o fenómeno que queres estudar é tão frequente (ou disponível) que se assemelha a uma das várias distribuições típicas de probabilidade (fenómenos demográficos ou psicográficos, por exemplo)

Às vezes até nem se encaixa, mas nós "forçamos" que assim seja (tal como a standardização ou aproximação à distribuição Normal, F de Snedcor, T de Student, Poissom, etc)

Matematicamente, no domínio do cálculo, tudo isto até faz sentido.

Mas a matemática (ainda) não consegue explicar totalmente a complexidade das relações humanas.

Um colega do meu professor tentou arranjar um modelo econométrico de regressão linear que explicasse o fenómeno "casamento".
Quais seriam os "ingredientes" necessários para uma relação terminar em casamento.

É impossível traduzir numa expressão matemática o que é o fenómeno "amor".
É mais fácil tentar explicar "casamento" porque tal é observável e pode ser medido/quantificado/testado.

Lamentavelmente não encontrou variáveis para explicar esse fenómeno. As pessoas só casam quando estão apaixonadas.


A vida ensinou-me que os relacionamentos entre homens e mulheres são muito mais complexos do que qualquer problema matemático.

Mas vale muito a pena, senão nenhum de nós teria nascido.

«Porque não consigo viver com a ideia de que ela pode estar certa, e eu não arriscar»
É esse o sentido da vida... a eterna busca da felicidade...

P.S.: Parece-me que te andas a inspirar naquela série de TV que eu adoro (Num3ros).

A matemática é ainda muito árida para retratar a dimensão de certos sentimentos.

invisio2nx said...

Relativamente à teoria pavloviana do Condicionamento clássico, prefiro usar o teorema de Bayes:

sendo:
- P(B|A): probabilidade de se obter determinada reacção B, dado o estímulo A
- P(B): probabilidade de se obter a reacção B isoladamente.
- P(A): probabilidade de ocorrer o estímulo A isoladamente.
- P(B|A)= P(B&A) / P(A) POR DEFINIÇÃO!!!



Assumindo Independência entre reacção e estímulo:
P(B&A) = P(A)*P(B) (por definição)

Temos que:
P(B|A)= P(B)*P(A) / P(A)
Pelo que:
P(B|A) = P(B)

A probabilidade de ocorrência da reacção B, dado a ocorrência do estímulo A, será tanto maior quanto maior for a probabilidade de ocorrência da reacção B isoladamente.

Assumindo a hipótese de independência, o estímulo A parece não afectar a reacção B.

Eu acredito que nas relações humanas prevalece a dependência, pelo que este raciocínio é inválido.

Tal como tu dizes e bem:
A teoria do Condicionamento Operante, de Skinner, defende que um reforço positivo faz com que o comportamento que o originou se repita, enquanto que um reforço negativo ou uma punição faz com que este se extinga;

Ora, eu aprendi isto sob o nome de "teoria da motivação".

De qualquer, lembra-te que há vários tipos de "saberes".
A Filosofia existe para tentar explicar aquilo que a matemática (e o método científico) não conseguem explicar. É um saber mais abrangente.
E é mais acessível porque não requere "cálculos".

Anita said...

"A vida ensinou-me que os relacionamentos entre homens e mulheres são muito mais complexos do que qualquer problema matemático" - Não sei se pensaste k a minha ideia era diferente. HELLO!! Eu estudo Psicologia Social - PESSOAS :)

A teoria de Pavlov aplica-se aqui exactamente pk há associação dos estímulos - dependência.

O Condicionamento Operante OU Teoria do Reforço de Skinner é apenas uma das muitas teorias da motivação - é definida por alguns autores como uma teoria de "processo", em oposição às teorias da motivação de "conteúdo" (e.g., a teoria da hierarquia das necessidades do Maslow);

"A Filosofia existe para tentar explicar aquilo que a matemática (e o método científico) não conseguem explicar." - Eu não quero explicar nada, queria mostrar exactamente que, apesar de ter todas as teorias "contra", inexplicavelmente a minha vontade era diferente e prevalece sobre toda a lógica matemática e comportamental.

Anonymous said...

«HELLO!! Eu estudo Psicologia Social - PESSOAS :)»

Yep, sem dúvida que és... psicólogos, tarólogos, astrólogos... tsss... tsss...
sempre com teorias para tudo... sempre a complicar...

As teorias vão e vêm ao sabor dos tempos... o que hoje é valido, amanhã já não é mais...

«inexplicavelmente a minha vontade era diferente e prevalece sobre toda a lógica matemática e comportamental»

Isso é o que faz de ti humana... dificilmente esses teóricos estiveram alguma vez apaixonados na vida... se estivessem realmente, não pensariam em teorias... teriam aprendido com o exemplo dos seus antecessores... há coisas que simplesmente não podem ser explicadas usando a abordagem do método científico.

Anita said...

SE PENSAMOS DA MESMA MANEIRA PORQUE É QUE ESTAMOS A DISCUTIR?