Saturday, March 17, 2007

Contos de fadas III - A princesa e a ervilha

Lembrei-me agora de outro exemplo daquilo que considero ser a melhor maneira de transmitirmos os valores às crianças - sim, refiro-me mais uma vez aos pedagógicos contos de fadas.
Lembram-se certamente da história da princesa e a ervilha. Bem, então se se lembram: será que me podem explicar em que parte da narrativa ela mostrou interesse em casar com o príncipe? Se não estou em erro, e tenho quase a certeza que não, ela apenas foi ter ao castelo porque apanhou uma molha do caraças e precisava de um lugar para passar a noite. Mas a raínha (sogra do c****** que ela foi arranjar), pensou logo: "hmm, queres dormir, né? Tá-me cá a parecer que queres é casar c'o meu filho". E então, esperta como só uma raínha de contos de fadas pode ser, decidiu f**** a noite à rapariga com a p*** da ervilha. E a gaja chega ao quarto e deita-se em cima de uma data de colchões e não acha estranho! Quero dizer, se me dessem um quarto p'ra dormir e a cama tivesse vinte e tal colchões eu, no mínimo, perguntava: "PRA QUÊ?". Mas não, a rapariga era tão pura (afinal, era uma princesa de verdade, f***-se!) que não quis chatear as pessoas com pormenores tão sem importância. E é sempre bom ver o carácter da rapariga (que é, aliás, o de quase todas as personagens femininas nestes contos) que, assim que lhe dizem que acreditam que ela é uma princesa de verdade e que pode casar com o príncipe ela não diz "ai" nem "ui" - provavelmente até agradeceu, que eu tou mesmo a ver o tipo. Era assim tão difícil dizer "Hmm. Muito obrigada pela gentileza de me ter deixado passar aqui a noite, mas agora, se não se importam, preferia voltar ao meu palácio e à minha vidinha que eu não conheço o seu filho de lado nenhum e já ando a comer um gajo lá na corte, portanto é óbvio que casar-me com ele - por uma questão de bom-senso - está completamente fora de questão". Custava? A boa educação tem limites!

4 comments:

invisio2nx said...

Mais uma vez, não tem a ver com "boa educação" mas sim "boas maneiras".

Correndo o risco de me repetir (no comentário ao post anterior), esse conto/fábula já existe há mesmo muito tempo.
As nossas avózinhas ouviram-no, contaram às nossas mães... que nos contaram a nós (a mim não, acho que não era boa ideia por o miúdo a chorar a noite toda).

Enfim, na época das nossas avós, em que os casamentos eram combinados pelas famílias (e por vezes chegavam ao rídiculo de andar a contar oliveiras ou cabeças de gado para saber qual dos rapazinhos era o "eleito" como o "melhor" partido para a donzela), era vulgar as "boas" famílias transmitirem essas histórias para as "meninas bem".

Lembra-te que se vivia uma época de censura...

Anita said...

O meu objectivo principal é dar um bocado de humor à coisa. Mas a verdade é que detestava quando me contavam ou lia este tipo de histórias e garanto-te que se vier a ter filhos, não vão ser estas as versões que lhes irei contar.
Não pretendo, de forma alguma, criticar os seus autores (porque, como referiste correctamente, temos que ter em conta a sua época), pretendo apenas que deixem de ser utilizadas para ensinar os valores às crianças.

invisio2nx said...

Há outras formas de ensinar os valores às crianças.
As fábulas são um expediente rápido que por vezes os pais se socorrem quando não querem perder tempo com muitas explicações.

Pessoalmente, achei a tua versão muito mais interessante, com a adopção dos «neologismos»:
c******
f****
p*** e, claro, o
f***-se!

Mas, já agora, não pude deixar de rir.
Ó Ana, se este é o teu espaço, porque é que não escreves do modo que realmente te apetece? Esquece os asteriscos e escreve as palavras mesmo como elas são!

Liberta-te!!!

Ah, pois é! Afinal parece que as fábulas resultam mesmo, principalmente no que toca às "boas maneiras". Tu não és capaz de escrever aqui um FODA-SE! como deve ser :)))

Fábulas a mais na infância... dá nisto LOL :D

Anita said...

"Por acaso" tás completamente enganado nesse aspecto: eu escrevo realmente como me apetece. Não uso os asteriscos com medo de chocar as pessoas, pelo contrário; se utilizasse as palavras como elas são, não tinha piada, acho que assim chama muito mais a atenção do leitor :D