Wednesday, February 21, 2007

Educação Intercultural

A educação inclusiva não tem a ver com a igualdade.

Tem a ver com um mundo onde as pessoas são diferentes.
Tem a ver com aquilo que podemos fazer para celebrar essas diferenças,
através da nossa aproximação uns dos outros.


Monday, February 19, 2007

O pão

Como podemos querer
Que o pão seja de todos
Os homens
Se nem a natureza o é?
O sol não aquece toda a gente
A chuva não inunda o mundo inteiro
Os rios só correm numa direcção
Mas o pão
É semeado
Plantado
Por todos
Para todos
Em busca de ninguém.

A razão

- Quem és tu?
- perguntou o Homem
- A razão
- Quem me dera não te ter conhecido.

Deitada a ver as estrelas...

Deitada a ver as estrelas
Vi uma que me despertou
E me fez lembrar de ti
Da tua luz radiante
Que adormece
Alimenta
Ilumina
Destrói.









Foto tirada e cedida por PhoenixOcean

O saber ocupa lugar

O saber ocupa lugar
Nas nossas mentes
Faz-nos pensar
Bastante
Perdendo grande parte do nosso tempo
O saber ocupa tempo
Além de espaço
Vive-nos um pouco da vida
Ajuda-nos a fazer escolhas
Escolhas essas que determinam
O lugar que pessoas e coisas
Ocupam dentro de nós
Escolhas que não teríamos consciência
Se não tivéssemos saber.

Se fossemos irracionais

Se fossemos irracionais
Nunca nos passaria pela cabeça
O quão boa era a nossa animalidade
Assim
Sendo racionais
Sabendo-nos dotados de razão
Podemos concluir
Que se fossemos irracionais
A nossa animalidade seria boa.

Se nascemos nus...

Se nascemos nus
Porque é que na nossa morte
Nos vestem a preceito
A Cinderela
No baile
Não veste o vestido à meia-noite

Apaixonei-me por ti

-Apaixonei-me por ti
-Quando?
Agora?
-Não
Já passou
Apaixonei-me
É passado.

Não apagues a luz

Não apagues a luz
Enquanto durmo
Se para dormir a desligas
Para que fechas os olhos?

Peço-te um beijo

Peço-te um beijo
A ti
Mas não porque queira beijar-te
Mas porque tu queres
Ou porque eu quero que queiras
Mas não eu
Eu não quero beijar-te
Se quisesseBeijava
Não te pedia
Pedir é não querer fazer
Nunca se pede o que se quer fazer
Faz-se
Se pedimos algo a alguém
Para que essa pessoa o faça
É porque não queremos fazê-lo
Nós
Por isso é que eu
Apesar dos teus protestos mudos
Nunca te atendo
Quando me pedes
“Ama-me”.

Hoje acordei com a cabeça virada para os pés

Hoje acordei com a cabeça virada para os pés
E percebi que estava bem
Que continuava a ser eu
Isso mostrou-me
Lembrou-me
Que nem sempre a maneira como vemos as coisas
É a única possível
E que todas elas podem estar igualmente certas.

Corpos fechados

Corpos fechados
No mundo
Saltando
Voando
Querendo querer
E não sabendo como
Perdoar
Para tentar viver
Sonhando
O mundo
A seus pés.

Que sentido pode ter a democracia...

Que sentido pode ter a democracia
A justiça
Quando milhões de pessoas em todo o mundo
Morrem à fome
Enquanto uma pequena minoria
Vive à custa da exploração
Do capitalismo
Da mais-valia
Onde é que há igualdade
Quando olhamos para duas crianças
Que por nascerem em sítios diferentes
Em famílias diferentes
Em classes sociais diferentes
Têm diferentes oportunidades
Diferentes vidas
Que raio de mundo é este
Que em vez de salientar a diferença
A discrimina?
Que em vez de respeitar
Mata e destrói?
Que tipo de liberdade é esta
Se é o dinheiro que a compra?
Que tipo de socialismo é este,
Se não tem em conta as pessoas?

Os meus olhos acordaram para o mundo

Os meus olhos acordaram para o mundo
Infelizmente
Porque enquanto estavam fechados
Não via o quão triste ele é
Pessoas sem casa
Sem nome
Sem vida,
só sobrevivência
Pessoas com carros
Com roupas caras
Com casas enormes
Onde só moram elas e o seu egoísmo
Crianças sem pai
Sem mãe
Com os ventres dilatados da fome
Mulheres que pagam
Para que esses mesmos ventres se alisem
Que tapam com cremes o seu verdadeiro eu
Para exibirem um inventado
Homens explorados por outros
Que exploram e vivem à custa disso
Homens que trabalham e sofrem
Homens que não trabalham e vivem
Por isso é que quando os meus olhos se abriram
Instantes depois disso acontecer
Eu desejei que o tempo voltasse atrás
E que eu nunca pudesse ver.

Hoje deve ser um dia não

Hoje deve ser um dia não
Porque não sei que faça
Não sei em que pensar
Em quem pensar
No que pensar
O que fazer
Quem visitar
Quem deixar sofrer
Que sentido dar à vida
Que sentido dar ao mundo
Não sei o que diga
Não sei o que mate
Nem sei o que viva
Dentro de mim
Onde ir, onde ficar
Partir, voltar?
Chorar, rir, soluçar
Mentir
Não sei com quem falar
A quem ouvir
Apesar disso tudo
Sei quem sou
E quem não sou
Por isso é que estes dias são tão difíceis de suportar.

Quando era criança pensava...

Quando era criança pensava
Que todos os Homens eram iguais
Que o preto, o branco, o amarelo e o vermelho das peles
Estavam para a terra como o arco-íris está para o céu,
Para embelezar.
Que todas as pessoas eram boas
Comiam e tinham um lar quente
E uma ceia alegre no natal
Que a fome só existia na televisão
Uma caixa mágica
Com pessoas a fingir lá dentro
Depois fui crescendo e percebendo
Que a fome era verdadeira
Quando via as pessoas na rua a pedir
Uma moeda,
qualquer coisa
Apercebi-me de que as pessoas
Apesar de iguais
Tinham direitos diferentes
Casas diferentes
Famílias diferentes
Mas todos continuavam a ser bons
Cresci ainda mais e reparei
Que as pessoas afinal não não eram assim tão iguais
Que só os pobres tinham fome
E frio
E aos ricos cabia ajudá-los
Com a sua bondade
A sua generosidade de quem se sacrifica em prol dos outros
Hoje não acho nada
Não penso nada
Hoje sei
As pessoas não são todas iguais
Há pessoas diferentes
Muitas, bastantes
Talvez quase todas
Que olham o mundo a sua volta
E não vêem a miséria
Não vêem a fome
O desemprego
A guerra
Estão cercadas por um espelho enorme
Rodeadas pelo seu reflexo
Só se vêem a si mesmas
E essas pessoas não são boas
São más
Muito más
Porque as pessoas boas da minha infância
Não deixam uma criança morrer à fome
Passivamente.