Thursday, June 28, 2007

Na paragem do autocarro

"Vem às onze e meia".
"Onze e trinta", corrijo. Onze e meia é 11h06, acho eu.
Mas não. Afinal dá p'ras duas coisas. Afinal, p'ra ele, o autocarro também vem às onze e meia.
Está em Portugal há 7 anos. Nunca tinha saído do Brasil antes disso. «Mas começou faltando dinheiro...aí, meus pai[s] disseram:"vai p'ra Portugal"».
Fala com expressão e voz que não mostram saudade, apesar de as ter da família: os pais, os 6 irmãos. 'Acostumou' com Portugal, gosta do que ele acha serem os portugueses. "Do que ele acha" digo eu, ele apenas refere gostar dos portugueses. Morou 45 dias na Amadora, diz ele. Depois foi para a Charneca, depois para a Costa; seguiram-se uns tempos no Alentejo e finalmente veio morar para aqui.
"Gosto disso aqui. É calmo. Gosto das pessoas daqui, são muito simpáticas."
Pergunta quando serão as festas aqui na zona. Foi nessa altura que o conheci, o ano passado, no café.
"São na 2a quinzena de Julho".
Provavelmente não estará cá. Está a trabalhar em Espanha, agora, onde não ganha muito mais do que ganhava aqui, "mas pelo menos vem todo no final do mês". Pensa voltar p'ra Portugal em breve, já tem saudades. Fala deste país como da sua casa. Uma segunda casa. O antigo patrão quere-o de volta e promete-lhe que as coisas vão ser melhores, que vai poder pagar-lhe tudo ao fim do mês. Vê-se no olhar dele que acredita e quer voltar. Já não é muito novo. Quer voltar. Para casa. P'ra cá.
O autocarro chegou.

No comments: